quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Edifício Sede Vodafone, Barbosa &Guimarães, Porto

Hugo Lourenço
Arquitectura para uma Imagem

A sede da Vodafone apresenta-se como uma obra de linguagem arquitectónica contemporânea de excepção, semelhante à Casa da Música mas com uma expressão de singularidade diferente. Na verdade a obra procura criar uma imagem nela que reflicta a filosofia da empresa que representa, utilizando uma linguagem que já está no imaginário arquitectónico.


Escolhida pela Vodafone entre outras vinte obras a concurso por exprimir a imagem que a empresa queria transmitir, a sua particularidade é bem definida na forma como esta se manifesta. Como edifício para uma marca todas as propostas desenvolveram a ideia de um edifício outdoor, sem excessos formais ou expressivos. A proposta procura ir além desta concepção literal, a sua articulação com o outdoor é longínqua, o seu outdoor é a Casa da Musica. A imagem que pretende criar é um encontro de valores com uma obra singular na cidade que já possui uma imagem forte e inovadora, usando-a como imaginário para a caracterização da marca.

O edifício apresenta-se como um monolítico de betão branco, delimitado por paredes e telhados com uma geometria irregular e fragmentada que se prolonga nas janelas. Esta irregularidade estende-se para o interior, como as fachadas são a própria estrutura do edifício o exterior reflecte-se na cobertura, paredes e até no jardim que é trabalhado como prolongamento desta irregularidade. A linguagem é o ponto de articulação, que fica ainda mais marcada pela pouca distância que separa as duas obras, assumindo-se como mais um marco na paisagem, rompendo com os parâmetros da envolvente pelas linhas dinâmicas e arrojadas.

Conseguindo o caracter de edifício excepção pela linguagem forte a que se conecta, a obra está colocada num contexto completamente diferente à do seu homónimo. A Casa da Música toma uma atitude radical sobre o local, tanto formal, como de implantação e escala, indo de encontro aos conceitos do próprio arquitecto Rem Koolhaas, que defende uma violenta transgressão e, até, uma aparente agressão à paisagem, ao bom senso e ao bom gosto para que a obra se ofereça à cidade e que permita que a zona se reestruture e renove. Contrasta com a envolvente, criando uma nova centralidade nela tentando ser o local de encontro/choque para provocar urbanidade. Pelo contrário a sede da Vodafone implantou-se num lote estrangulado, dominado a oriente e a ocidente entre edifícios tradicionais, onde a sua volumetria prolonga a imagem coerente destas edificações e própria logica dos intervalos entre vãos e betão no edifício parece querer repetir a ideia de varandas corridas. A linguagem do edifício não é coerente com a sua forma de implantação, por condicionantes de escala ou de espaço que impedem a sua afirmação como novo espaço na cidade, procurando em alguns pormenores como o afastamento da envolvente pela troca de materiais na aproximação ao edifício ou a libertação de alguns centímetros para não haver toque com a fachada lateral essa afirmação.

A dicotomia entre espaço e linguagem torna-se ainda mais evidente no seu interior, onde a pele que caracteriza a imagem se assume autónoma ao edifício. A irregularidade do exterior é apenas fachada. Como um prolongamento, as linhas e os ângulos de betão projectados continuam no interior, mas apenas na pele que envolve o edifício. Toda a organização interior é linear, a própria disposição do programa é característica dos edifícios de escritórios, apenas nos seus limites não existem paredes ou janelas quadradas, mas sim imensos cantos e ângulos, nichos que criam salas diferentes. As janelas acompanham a irregularidade das paredes de todo o edifício, criando inúmeras formas geométricas distintas, sendo o único elemento que cria alguma diferença na forma como se observa o espaço, que procura ser continuado pelos rasgos das luzes mas já de uma forma muito artificial.

A sua pele assume o papel principal, não procurando ser a excepção que dá carácter ao espaço exterior ou que define uma ideia interior, mas usa-o para se tornar num elemento estranho no contexto e se destacar. O edifício é um hiato na Avenida da Boavista, assim como o é na obra do atelier Barbosa &Guimarães, alunos formados na escola do porto e defensores das suas ideias, que as suas outras obras exprimem. Esta obra é um elemento estranho que corrobora essas ideias, como o faz no contexto cultural da cidade do Porto, onde os projectos defendem uma ideia de linhas simples horizontais e de integração na paisagem, sendo um elemento estranho na paisagem que aparenta ser pensado para um outro contexto mas que é ali colocado para o qual o local não tem importância. Assume-se como marco arquitectónico pela individualidade na cidade.

Como resposta às necessidades que as empresas têm em criar imagens distintas na mente das pessoas através dos seus edifícios, fazendo uso de uma arquitectura que procura o impacto e a visibilidade, a obra corresponde, conseguindo pela sua forma agregar o próprio slogan da marca “Vodafone, vida em movimento” inspirando movimento no objecto estático. Mas ao mesmo tempo caracteriza a superficialidade da arquitectura das empresas pois está perto de ser um exercício de fachada na procura de um contraste e criação de uma imagem, com a utilização de tiques da actualidade sem a preocupação do valor teórico e arquitectónico.




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