segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Centro Saúde de Vila do Conde_Arquitecto Paulo Providência

Inserido numa envolvente bastante consolidada o centro de saúde de vila do conde, surge-nos ao longe como um volume simples, de arestas bastante vincadas. Um monólito castanho que se pretende fazer sentir, não por consciência da imposição da forma mas por consciência do programa que alberga,e pelo que deve ser uma resposta formal ao mesmo, uma instituição de saúde.

Localizado na transição entre a zona histórica da cidade e a nova zona residencial e de equipamentos públicos, a baixa volumetria do edifício respeita as contingências urbanas da envolvente, mostrando contudo uma brilhante atitude de ironia. Num posicionamento claramente contrastante com o edifício contíguo do Lar Santa Casa da Misericórdia, do arquitecto Luis Cunha, o centro aparece-nos como um objecto aparentemente isolado, onde as formas plásticas do Lar, resultantes de um época onde o pós-modernismo tentava assentar ideias , contrasta com o rigor geométrico, a cor e a composição uniforme da fachadas do volume do centro.

Num reconhecimento da envolvente e do que é uma instituição de saúde, o arquitecto, Paulo Providência, faz a implantação do volume, paralelepipédico, num claro afastamento da linha da rua, criando um impasse como momento de entrada no edifício. Aqui estamos numa situação de privilégio em relação ao ritmo de frenesim de quem passa na rua. Esta zona ajardinada faz a transição entre a rua e a entrada principal. Um volume que extrapola a linha da fachada, marcando assim a entrada no piso térreo.

O edifício parece desde logo convertido numa resposta directa ao programa, estruturando toda a lógica interna do edifício. De facto, a organização espacial interior surge como transposição dessa mesma interpretação, onde a questão hierárquica do público e privado nos é logo transmitida e onde o nosso sentido de orientação não é enganado. Gabinetes médicos, de enfermagem e salas de tratamento- a sul, zonas de atendimento, zonas de espera e acesso vertical- a norte. O desenho da fachada é convertido num jogo de positivo/negativo, onde a forte transparência procura, e segundo o próprio arquitecto , ‘fomentar uma tranquilidade visua

l entre interior e exterior’.












Num jogo subvertido de reflexos e transparências, o ritmo vertical das grandes janelas de vidro espelhado parece acompanhar esta separação publico/privado. As fachadas reflectem tudo o que existe, sem que alguma visibilidade seja permitida para o seu interior. Do interior vigia-se parte da cidade que se consegue alcançar. Se durante o dia reflecte a envolvente, à noite ilumina a rua, permitindo que seja alcançada quase toda a totalidade da largura do seu interior, invertendo-se o jogo.

Se a norte a fachada se organiza maioritariamente pelas zonas de espera, a fachada sul é pautado pelo ritmo dos gabinetes, existindo essa transposição e sinceridade com o funcionamento interno. Assim, por hierarquização das funções consegue-se um momento intermédio, um cor

redor de distribuição que se assume como intermediário entre zona pública (fachada norte) e a mais privada (fachada sul). Este mesmo corredor faz ainda a comunicação vertical entre os 3 pisos, através de escadas e elevador.

Aquando no exterior apercebemos-nos da existência de uns grandes pátios que fazem a iluminação da sub-cave, local de onde se encontra a zona administrativa. A existência deste piso permite uma maior articulação e abertura da fachada sul para o interior do quarteirão, possibilitando também a entrada a doentes que venham de transporte especial.

A articulação espacial dos seus espaços é conseguida pela simplicidade construtiva da obra, onde o seu caris modulas, compositivo e tipológico é de uma forte resposta, não só espacial como construtiva. Existe a mesma linguagem entre forma, composição estrutural e uso dos materiais. Esta simplicidade construtiva, tão modular e pré-fabricada surge como resposta a um equipamento público de uma época, situação social e política com contingências orçamentais, torna-se a certo ponto previsivelmente literal e racional.

O efeito do reflexo das janelas e a cor das fachadas, concede ao corpo arquitectónico um aspecto fechado e reflector durante o dia, subvertendo-se esta vontade de tranquilidade visual entre interior/exterior procurada pelo arquitecto. Assim este efeito de cor muito próprio, com um brilho ligeiramente esverdeado entre o vidro e o castanho escuro das suas paredes expressão a pouca neutralidade e indiferença funcional que pretende ter. O edifício, pelo seu todo, compositivo e formal, mas sobretudo pela sua cor transpõe uma capacidade singular de expressão, resultando esta sua não-neutralidade numa sensação de solidez, densidade, uma segurança maçiça que perdurará no tempo.

Com algumas referências explicitas do movimento moderno, o Centro de Saúde de Vila do Conde apresenta uma concepção estética , tão simples como bela.










(Fotografia nº4 : Fernando Guerra)



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